Vende-se Poema limpinho, recatado, do lar, gestos medidos, voz doce, Inspirado em __________ ou ____________ (preencha você), Fácil de escrever, “conceitual à beça” prosaico até dizer chega Não fede nem cheira Sem susto nem substância Recheado de clichês Vende-se Vendo-me Foda-se Inocência morreu de velhice e álcool Quero aproveitar minha evidência Os 15 minutos de Andy Warhol Em lugar de poesia eu trago a pose (o que você achou que fosse?)
Tempos confusos Silenciosos Pacatos Vazios Solitários Não sei se é melancolia Ou se é luto Mas eu luto Para sair desse plano Com urgência A mesma urgência...
Já é tarde é tempo que diz adeus já foi, já saudade, Foi -se a era dos controles epeus Já é tarde demais pra se esquecer do mundo enterrando clepsidra como pobre defunto esquecida nunca pelo leve cantar que assombra as sombras que afundam no mar É tarde pra não se fazer entender pra dita imagem que emerge do rio Daquele que chora de calor face o frio E tarde pensas estar ao seu ver É tarde para não abraçar o passado O triste, carregado por mim, fado das obsoletas entranhas de uma nova...
SER \\ Bucólico e orgânico o organismo humano \ Estacas e corações \ Batendo \ desordenadamente \ Ao passo da marcha \ Agudos e graves \ E o sangue \ Vermelho, bucólico e orgânico.
Moro na outra margem da cidade\ próximo às rodovias\ e dos trilhos abandonados\ da Estrada de Ferro São Paulo e Minas.\ Perdi o sono, Deus!\ e ouço os barulhos dos caminhões\ distantes.\ Antes mesmo de amanhecer já terei partido.\ É cedo ainda!\ Madrugada. Há neblina no lago.\ Pensando bem...\ pouca coisa mudou\ desde a tua época, pai...
O Oráculo Oh, grande Oráculo! Eterno e assaz efêmero, célebre, magnífico e imáculo. Revela-me, guru esplêndido! Prostro-me ingênuo e sorumbático, fitando-te com o rosto lívido: não tens alma, e isso é trágico, teu crédito, porém, é vívido. Ora, ora, Oráculo... Quem te elegeu, num gesto plácido, para declamar neste espetáculo, como se teu conselho fosse válido? Sendo verdade, partiria lépido, e ignorando o equívoco, defender-te-ia intrépido! (ainda que soasse frívolo) Oráculo dos oráculos! Se...
árvore genealógica\\ ela queria ser uma árvore\ dar sombra às pessoas\ deixar seus galhos\ braços partidos\ na lareira\\ servir de alvo ao raio\ que lhe tiraria a vida\ mas não o sol e o que restaria ainda\\ nela os passarinhos viriam fazer sininhos\\ quem sabe um dia um morador de rua\ construiria a tão sonhada casa em suas costas\ com escada e tudo\\ tu\ do ::\\ dor\ va\ le\ e\ um\\ ter a sorte de um casal\ no seu peito\ tatuar dois nomes\\ contornados por um trespassado\ coração...
Mesta solidão me impõe a plúmbea cava\ Pois belas não são as flores como antes, Em tempo que o astro, sóis fulgurantes\ Da tenra volúpia amor matinava\\ Agora vencidos o amor e a arte\ Sob a nívea amoreira, à luz terna\ Da prima estrela e margarita eterna\ Plangem à míngua da seiva escarlate\\ Mão que empunha a pena e ampara o mento\ Tal é que a carne faz volver à terra\ A alma purgando do diro tormento\\ Luz do almo riso as pálpebras cerra\ A quem de amar-te, odiou-se, sem tento\ E não qual...
A gente finge entender. A gente finge aceitar. A gente finge que lê. A gente finge respeitar\ A gente finge\\ A gente finge que acha graça. A gente finge se divertir. A gente finge que é pirraça. A gente finge não desistir\ A gente finge a barriga. A gente finge a cor da pele. A gente finge a cor dos olhos\ A gente finge a cor do cabelo. A gente finge ter dentes. A gente finge ter peitos\ A gente finge ter\\ A gente finge\\ A gente finge a roupa que veste. A gente finge ser importante...
das coisas loucas e lindas\foi que retirei o sumo da vida\e o sorvi no nosso jardim secreto\entre flores sem nome\e aves hoje já extintas\\dançavas, oh, felicidade\ tão nua e tão perto\que bastava estender a mão\para te colher\e te possuir ali mesmo\\ engravidei-te, felicidade,\de insensatez e esperança\e, invejosos de nossa plenitude,\ te sequestraram\te bateram\e te fizeram abortar -\no entanto,\o natimorto fruto desse crime...\chamou-se Vida! e, ainda que morto,\era melhor e mais precioso...
Este é o poema do cume\ [do erudito ao não dito\ da cumeeira sem beira\ que do cume agito\ acima abaixo\ a fora e a dentro\ de um pretendente\ pra sempre\ a ser gente] do cume lado do presidente\ que do cume fala\ que do cume governa\ que do cume só pra com um cálice\ cálice cálice\ o cume trouxe\ estrume lado\ na mão\\ o cume lado do presidente\ moro do paraná\ toda vez que sobe o cume\ desce o cume lado\ o cume lado desce\ e do cume lado moro\ a galope o golpe\ do cume vaza...
Avoante \\Quero verbalizar a dor imensurável de ter perdido você,\ Mas não dá.\ Então me afasto, fico puto, sou ríspido contigo,\ Essas coisas de coração partido.\ Em pensamento, estou velando seu sono.\ Abençoando seu caminho, mesmo diferindo do meu. Portanto, libertarei suas asas,\ Porque você é a coisa mais linda da vida E precisa ir.\ Porque você canta desafinado e doce\ Feito uma pombinha assustada. Porque se aninhava em meu peito como se eu pudesse protegê-la de qualquer coisa...
Pássaro com farpas nas asas e\ buracos\ de tiro\ no meio da alma,\\ voa\\ mesmo sabendo que sangra,\ mesmo sabendo que parte, \mesmo sabendo que luta \contra a revoada,\contra a maré \e contra \o vento.\\ Voa \\ao relento de suas penas...
Ê vida marvada, \ Leva a fome du sertão,\ Leva lá prás terra na estrada, \ Até chegá nus asfaltão. \\ Ê rio brabo, \ Deságua a tristeza bem pra lá \ Num deixa entrá mentira e descaso \ Que aquele insisti em falá. \\ Ê arvrinha boa di deitá Num morre nessa terra seca, \ Guenta firme qui vai miorá, \ Nóis inda vai levanta a cabeça. \\ Ê homi do sudeste, \ Pres tenção qui no agreste, \ Nus cabra da peste, Qui é bom com força, num é cafajeste. \\ Ê homi de Brasília! \ Cê tá esquecendo di nóis...
Estranho seria se desse certo\ Se não fosse difícil\ Estranho seria se fosse simples\ Se não houvesse dor\ Estranho seria se só o amor bastasse (não basta!)\ Acabou!\ Acabou, mas deixei a porta aberta\ Você levou tudo, eu sei\ É que sobrou pó de café\ E se sobrar um tempo\ Venha (me) tomar\ Assim batemos um papo\ E eu aproveito pra espancar a saudade\ até matar] Não quero estorvar, é complicado...
SEREIA \\ Sentada na pedra do mar,\ A Sereia molha a cauda\ Banhando a pele na prata\ Da noite escura sem estrelas.\\ A água gira dançante,\ E distante, a luz da Lua borra,\ E a Sereia reconhece a trêmula alma na água,\ E sentada, silenciosa, triste, chora. \\ A Lua sabe a dor doente,\ Pois seu espelho a reflete incompleta,\ Fosca, molhada e cheia de peixes,\ Então, amigável, mingua a sorrir pra Sereia.\\ A moça dividida,\ Metade peixe, metade carne,\ Metade morte, metade vida,\ Sorri triste...
Alta Imagem \\ o espelho mente pra mim\a marca da mandíbula\aparente\mente\não combina com a foto\a luz sobre o rosto\contra a pele\\meus olhos me enganam\só reparam nos lábios\escuros\nos cachos\modelados\e a pupila joga\conta uma história\que não se \prova\que não se sente\\sinto a inversão\dos clichês de sempre\\no vidro\contemplada\acredito em mim mesma\escuto\essa voz\que me diz gentilezas\\ (...)
notas escassas de silêncio.\ um templo e um monge \ sobre a calda do piano velho e de pedra: \ de mármore empoeirado, \ suas teclas nuas \ densas de vento. \\ rio represado pela falta \ de dedos vibrando as cordas, \ não acorda a árvore sonâmbula, \\ a pintura na parede, \ o vaso sobre a moldura, \ a nuvem sobre a chama do som que lembra algo, \\ neste assobio entre frestas. \ música, é impossível lembrá-la, \ por mais que vibre.\\ lágrimas, impossível \ contê-las, como um bonsai \florido...
Quem tem olhos pra ver o tempo? \Soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele \Soprando sulcos? \O tempo andou riscando meu rosto \Com uma navalha fina. \Sem raiva nem rancor \O tempo riscou meu rosto com calma. \Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante. \Acho que ganhei presença. \Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a vida anda \passando.\ Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há vida em mim. A vida\ em mim anda passando. Acho que a vida anda...
Cria\\ aceitei que sou louca\ que meus joelhos rangem e meus cotovelos furam\meus olhos latejam\as pálpebras tremem\aceitei minha loucura como uma gravidez de cadela\ de poucos meses\e muitas tetas\o problema de ser louca\e ter a cabeça cheia de ideologias\convicções e fantasias [políticas]\é que não te oferecem um quarto sem trancas\um refeitório branco com bandejas vazias\a prole da minha insanidade desceu pelas minhas pernas\estendendo os braços\e já tinha alguns anos...
prólogo\\porque eu posso\atravessar o deserto\comigo mesmo\\levá-lo\debaixo dos pés,\dos olhos,\dos sonhos,\dos medos\\porque eu povoo\sou além\das areias que somem\ no horizonte\além das miragens\o deserto,\me teme\\ *** \\um canto onde |entre cantos|auscultar o silêncio\\ *** \\ sim,\asas.\\um voo indômito,\solitário.\nenhuma certeza, ou\querência.\pouso, sequer presença.\\nenhuma espera,\e o tempo\que (só) passa:\uma ausência\\já quase sem nome...
Tudo caminha \ Nas ruas, nas rotas e nos rumos, \ romeiros em trânsito, \ tudo caminha \ nas beiras das províncias.\\ É quase um fluxo das fomes \ essa gente escorrendo para o sul \ feito sangue \ nas artérias da geografia da sede. \\ Tudo caminha, \ nas beiras das províncias, \ os homens e as foices, \ os bois e as canas. \ É um contínuo resvalar \ das caravanas \ desse povo que anda, \ que segue \ e se exila \ nas beiras das províncias.
A mala era maior do que ele. Quadrada. Pesada. Intrusa. Instalou-se no centro da sala. Entre o sofá e o criado, mudo. Ficava me olhando. Insinuando. Impedia a passagem. Atraia a sujeira. As roupas não cabiam. Um par de meias, camisa de botão. Um chinelo que a vida se encarregou de pisar. A alça era rubra, obscena. Da cor dos cabelos que um dia cultivei. Uma das rodas estava quebrada. Protuberava. Um nome na etiqueta o acusava. Dois, na verdade. Chorou bastante. O suficiente. Teve dor de dente...
cicatriz \ madrugada \ rosa \ teu \ corpo \ sobre \ o meu \ corpo \ latejando \ azul \\ tirésias virtual \ longa mensagem avesso \ virulento do bordado \ desvario na ínfima tela \
E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado, a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia. Abriu-se majestosa e circunspecta...
Sem-abrigo I O vento corta a madrugada como navalha ao olho (um chien andalou). A cachaça acorda a serpente em bote nas trevas do ventre farto dos artifícios da urbe (se reluz à noite é pedra ou ponta de faca) tropeça a fruta podre nem sente o peso do corpo piloto automático que tomba Qual vazio seu olhar desfocado afaimado absorto sôfrego ...
Deus Quando Deus pensou o mundo Ele estava entediado Sem o que fazer na imensidão do Seu espaço Acendendo e apagando estrelas e galáxias no infinito Quando Deus pensou o mundo Nascemos em Sua cabeça Perfeitos nós, os filhos, Dos sonhos de Deus Sublime cozinheiro de pensamentos Deus teve fome Passados sete dias de trabalho De tanto pensar o mundo Bons cozinheiros, vez ou outra, Regozijam-se com o próprio ofício E perdem o apetite Mas a fome incomoda E Deus nos...
Existe uma lagarta na gente. Tenho uma aqui dentro. Não sei bem ao certo a data precisa Em que apareceu. E eu Que nunca tive gato Nem passarinho, Que nunca ganhei tartaruga Nem cachorro, Passei a criar inseto. . Durante a noite, quando tudo silenciava, ouvia suas patas sob os móveis Da minha cabeça. No começo, achei graça: Tão miúda a bichinha! Ela me fazia companhia, Alimentando meus delírios Cada vez mais sombrios. Mas os dias seguiram E a criatura...
entre \ a realidade concreta \ da imagem \ e \ a concreta realidade \ da lágrima \ existe \ o fio abs \ trato \ e o trato \ adscrito \ entre \ a orquestra de fluxos \ e o léxico dos ventos \ que cobre \ com tinta de misté \ rio \ os acordes abissais \ e o gigantismo quântico \ de todos \ os ins \ tânticos
Yes, you're right,\ there is some kind \ of sleeping devil, \ os olhos retorcem-se e desafiam-te, falta a \ palavra e trava-se a \ língua, a áspera \ infância te amarga o céu da boca. \ Há perguntas \ que o ouvido pesa \ e não responde.\\ O ar cheio em teu pulmão \ se esvai sem que \ possas retê-lo \ e entre dedos \ te escapa \ o mundo \ enquanto lambe-te \ a face teu \ cão morto \ e em ti desabrocha na sombra da carne a serpente da árvore...
O instante existe Se instala cheira a aroma de frutas é suave sutil sorridente infantil é profundo liquida as mágoas bota fora o lixo a respiração flui como água o instante existe traz de volta o elo perdido fecha um ciclo abre caminhos o instante é segredo vem calado perceptivelmente pueril se instala invade a casa vazia configura o vazio revela uma essência pulsa a vida límpida feliz
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olho, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios...
Nossa mãe, o que é aquele vestido, naquele prego? Minhas filhas, é o vestido de uma dona que passou. Passou quando, nossa mãe? Era nossa conhecida? Minhas filhas, boca presa. Vosso pai evém chegando. Nossa mãe, dizei depressa que vestido é esse vestido. Minhas filhas, mas o corpo ficou frio e não o veste. O vestido, nesse prego, está morto, sossegado. Nossa mãe, esse vestido tanta renda, esse segredo!
E FEZ-SE luz ,luz que ao mundo faz, MAS seu reverso profundo, sombra do mundo, também nos faz. Faz a luz no mundo suas sombras, MAS COMO a sombra da luz se faz? I Água que é você. A onda te move a você em concêntrico círculo. Pulmões de vento que de fora a dentro bombeia-te o sangue. De barro, coração tempestade de onde brota o fogo informe. Braço insensato a mover-te ao mar que pára e paira...
.... mas tinge o sol estranhos horizontes. porque ama o voto e o objeto [por um mundo puro em éter]; ama sua lua escura, de quebra quirelas, um reflexo claro de bengalas, quartos, santos e capelas,\ um tesouro em vibração roxo-criativa-ignoto, silêncio, porque a névoa é pálida entre a orquídea e o abutre\ de amor agouro;\ corvo augusto, por todo amor estreito, tolo, abestalhado, moscardo-fusco. por todo angusto, pactolo suspeito, encharcado e injusto.\\ por dolo, um amor perfeito...
Para chegar lá o que é preciso? Alguns calos no pé Doses diárias de utopia E arrancar Sim, extrair Todo siso
Em lugar nenhum, Em que não estou, Em que não falo, Que não penso, Que ninguém me pensa, Que ninguém me fala, Que ninguém me sabe... Eu apenas não existo. Mas eu sei Que essa inexistência Está acontecendo agora E é tão real, Como existir o é.
Nome\ é o sobrenome\ do nome SobreNome\ Todo nome\ é sobre outro nome\ é sobre nome outro\ é outro sobre nome\\ E nome próprio\ é sempre apelido,\ alcunha passageira\ é outro nome sobre\ outro sobre nome \\\ toda palavra\ toda palavra\ é um quase\ esperando tradução\\ mares de Homero\ sombra voo\ atração\\ toda palavra é susto\ aposta curva\ explosão\\ algo que escapa\ um tiro na noite\ expressão\\ orgia e colheita\ tempestade\ inundação\\ toda palavra é risco\ sangue\ e verso pagão...
Corpo, linguagem\Teu corpo é um poema\mais que Euterpe, Calíope,\Clio é só linguagem\ esse corpo miragem\tão perto tão longe,\paisagem oásis esfinge\Leio com a língua as linhas e dobras\(são tantos enigmas o teu corpo)\enquanto das pétalas vermelhas\aromas baunilhas exalam e\minha língua como se olhos fosse\procura a luz no fim do túnel\A lança-punhal cego-deseja transpassar\entranhar-se curva adentro-fora:\conhecer cada relevo pêlo poro\as metáforas...
tudo é diferente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ mesmo que algo ou tudo/ de repente/ se repete/ aparentemente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ mesmo e para além do fato/ de que algo ou tudo/ de repente/ parece/ aderente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ ainda que o tempo/ pareça/ de repente/ passado futuro ou presente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ tudo é diferente/ mesmo que algo ou tudo/ pareça/ de repente/ primo irmão...
A penumbra que invadia a janela/ realçava a rouquidão das retinas./ A voz envelhecida/ revelava seu avesso:/ embaraço de traços,/ traças num abraço suado./ Nos gestos encharcados de chorume/ vi o velório do sentimento que um dia/ tomou de sequestro nossos sentidos./ – Por que, amor?/ – Pergunte à rotina./ Foi ela que arremessou as promessas/ nas frestas frias da realidade. /// Desfeto /// Esquivei-me de mim inventando a Esperança./ Fi-la alta, alva, veias à mostra, cabelos longos./ Logo que...
— Onde ele estará? — Quem? — Ora quem... Ele! — Shhh... Que isso?! Tá maluco?! — Covarde! — Não é uma questão de covardia, é uma questão de respeito! — Respeito?! Respeito pelo quê? — Ora... Respeito! Respeito por... por... Sei lá! Respeito! — Então a covardia mudou de nome. — Quem é covarde aqui? — Eu! — Não seja irônico! — Vai me dizer que você não está com medo? — Medo?! Não... Eu apenas acho que a gente não tem de fazer certas perguntas. — Por quê? — Porque está tudo...
Defino el amanecer/ comprendido entre los límites/ de alguna noción/ Sí, de alguna noción.../ Sigo escuchando mi vozaunque inhallable/ sin una boca que la contenga/ las palabras resuenan disonantes/ Miro hacia atrás/ y en cúbito gesto presiento/ que la noche se ha quedado sin tiempo/ para salvarse/ Predigo la palabra/ sin un lenguaje oculto que temer/ acaso sin nada que quebrantar/ Con actitud compasiva/ la insignificant/ Con actitud compasiva/ la insignificante noción/ se libra de...
Tenho um amigo que trabalha numa grande rede de fast food. Não vou falar qual porque pode comprometê-lo, mas tenho certeza de que você já deve ter ido. Sabe uma coisa legal que meu amigo me falou? Que a maior preocupação desta rede de fast food é manter o mesmo gosto em qualquer parte do mundo. Ele assistiu uma videoaula para os funcionários em que um senhor todo alinhado explicava que isso tinha a ver com globalização, porque o consumidor deseja continuar sendo o mesmo e comer o de sempre...
Tum-tum-tum-tum. Por mais que eu não queira, a mixórdia de tambores e ritmos invade os meus ouvidos e me deixa assustado. De nada adiantaria eu apressar-me até o táxi, ou retroceder para o hall do hotel, o elevador, ou antes ainda, o quarto escuro e o sono repousante: o carnaval está no ventre desta cidade! Decido-me pelo táxi e arrisco uma corrida rápida. O motorista abre a porta com cuidado, retoma o seu lugar e, sem dar-lhe chance, eu o proíbo de ligar o rádio. Ele não estranha a minha...
Num meio-dia de fim de primavera/ Tive um sonho como uma fotografia./ Vi Jesus Cristo descer à terra./ Veio pela encosta de um monte/ Tornado outra vez menino,/ A correr e a rolar-se pela erva/ E a arrancar flores para as deitar fora/ E a rir de modo a ouvir-se de longe./ Tinha fugido do céu,/ Era nosso de mais para fingir/ De segunda pessoa da trindade./ No céu era tudo falso, tudo em desacordo/ Com flores e árvores e pedras,/ No céu tinha que estar sempre sério/ E de vez em quando...
Está consumado. Durante anos, trabalhei arduamente por um sonho. Fui censurado, criticado e rejeitado, mas, agora, aqui estou eu, sentado dentro de meu Maverick V8, invulnerável, uno, longe de todos e de tudo, tendo apenas como companhia, bem à minha frente, a mais maravilhosa e magnífica rodovia. Estou falando de exatamente sessenta quilômetros de pura reta, com o melhor asfalto de todo o país. E eu estou no seu começo, e ela é meu início. Ligo minha máquina, animal em potência. O ronco é...
O rapaz está exausto. Ele está há cinco dias sobre um cavalo selvagem, o qual não dá mostras de que vá desistir. O cavalo pula para frente, para trás, dá coices, contorce-se, relincha, mas não consegue derrubar o rapaz. Derrubar-lhe é sua única saída, pois ele não conhece outra vida senão a de não ter alguém sobre o seu dorso. O cavalo pula para frente, para trás, dá coices, mas não consegue derrubar o rapaz. Não há sela entre eles.O rapaz continua exausto. Gotas de suor escorrem por seu...
O garoto estava sentado na areia, a olhar para o mar. Santiago partira havia dois dias, e o garoto andava preocupado. Vamos pra casa, filho. Já vou, mãe. Santiago está bem. Ele sabe cuidar de si mesmo. Eu sei. Você vai ficar aqui a noite toda? Não. Ela foi embora, e o garoto continuou a pensar no amigo. Santiago não fisgava nada havia 84 dias e havia ido longe para pescar. Falavam que ele se tornara finalmente um "salao", que é o pior tipo de infortúnio, e, por causa disso, o garoto...
Dentro de mim mora uma menina/ Tanto assustada/ Tanto indecisa/ Com pezinhos nas nuvens/ E raízes nos cabelos./ Dentro de mim há a intuição do torto e direito/ E no meu útero pulsam instintos primitivos/ De tempos remotos/ Que me conectam à Terra./ Eu não ouvia essa menina./ Amarrava seus tornozelos e cortava seu comprimento./ Quantas vezes morreu, sem nunca me maldizer./ Mas hoje ela me ameigou por dentro transformando pedras em flor./ Hoje ela me olha bem fundo, pedindo: “Abra os braços!”(...)
Como chegar a ser realmente livre? O altímetro confirma a altitude necessária. Nunca estive tão alto. O instrutor abre a porta do Cesna, e o silêncio é preenchido pelo ronco surdo do motor e pelo fustigar do vento. Estou prestes a dar o meu primeiro salto de paraquedas, em Évora, no Alentejo de Portugal. O avião está a três mil e quinhentos pés de altura e a sete mil e quinhentos quilômetros do Rio de Janeiro, onde nasci. Estou trabalhando há mais de três anos em Lisboa. Programador de...
Sinto o coração bater mais forte, então canto e assobio, porque estou voltando pra casa. Quero encontrar os olhares de boas-vindas e rir do exagero da minha mãe ao dizer que já estava preocupada pelo simples atraso de alguns minutos. Estou pensando em uma brincadeira que vai fazer minha irmã fingir que ficou nervosa, para logo depois soltar o sorriso que não conseguiu segurar. Vou retribuir a alegria do meu irmãozinho e pegá-lo no colo e dar uns bons apertos em suas bochechas rechonchudas...
As fotos que tiraram de mim/ não tinham cores./ Eram apenas fotos./ Não diziam nada sobre dores,/ Não mostravam os fatos, ou relatos, apenas eram fotos./ As fotos que tiraram de mim são apenas fotos,/ e como fotos, mostravam apenas a fração milesimal do segundo, de um instante, em um mundo,/ real?/ Abstrato?/ Imoral?/ Substrato?/ Mas as fotos que tiraram de mim não traziam momentos, jaziam sentimentos./ Que as fotos tiradas de mim transportem o câncer de uma vida, a alma.
Quando demos por nós, reparamos que todos na nossa mesa da choperia haviam dado baixa no happy hour de sexta. Ele estava louco para ver a TV Full HD de LCD que eu havia acabado de dividir no cartão para explorar todo o potencial do Blu-ray. Olhamos um pro outro e ficamos a fim de dar uma esticadinha no happy hour e tomar a saideira aqui em casa. Astuto como o diabo, não me espanta sua posição na empresa. Gerencia conflitos como ninguém. Começou com brincadeirinhas bobas e eu demonstrei...
Uma melodia, das menos detestáveis, não tão boa que possa embalar, mas ruim o suficiente para tirar-me da profundidade do descanso. Enfim, toca no celular. Passos leves, arrastam-se pelo chão de madeira. Até alcançar o clique do interruptor na sala. Mais um clique e a torneira jorra água fria... Acordar...Mais uma meia dúzia de sons até que se possa chegar à cozinha... Os passos ainda soam preguiçosamente pelo chão de madeira. Louça tilintando, café coando num som oco da água fervente caindo...
- Moço, me dá um cigarro? A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças. O importuno pedinte insistia: - Moço, oh! moço! Moço, me dá um cigarro?Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei: - Vá embora, moleque, senão chamo a polícia. - Está bem, moço. Não se zangue. E, por favor, saia da minha frente, que eu também gosto de ver o mar. Exasperou-me a insolência de quem assim me tratava e virei-me...
O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi ao quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino. “Cuidado, senão você acorda o seu pai”. Mas o menino não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a...
Pois não é que eles vinham vindo pela estrada fria, Nhô Bê e Chico, dois homens. Vinham vindo pelo estradão sem fim, naquela noite amarga de escura, nem uma estrela no céu, nenhuma claridade, tudo negro, tudo medonho. Era quase meia-noite e eles vinham vindo, só com o facão na cintura, voltando pro rancho.Nisso estavam chegando perto da casa do defunto Miguelangelo, uma tapera, abandonada, que de noite apareciam lá não sei quantas almas do outro mundo. Muita gente já tinha visto as tais almas...
Cumprimenta de acordo ao período do dia e se põe a passar a barra das mercadorias no leitor de códigos; parando esporadicamente para digitar os números, quando a leitura não é possível, ou para pesar frutas e legumes. Biscoito recheado, sorvete, barbeador, arroz integral, bacon, batatas, refrigerante, sabão em pó, isca para baratas, bananas, palavras cruzadas, vinho, pizza congelada, papel higiênico, damasco, picanha maturada, absorvente, palmito, pilhas, farinha de trigo, escova de dente...
Santa Claus Junkie é de Budapeste,/ droga-se viciado na ALemanha loura/ em 1945, em 1973 América e em 1900 e sempre./ Num albergue da juventude em Paris/ deixou presentes: sarcomas de caposi./ Santa Claus Junkie Yankee Yeah/ tem skate sem sotaque Jackie Daniel´s/, não torna em Blues o Christmas de Lennon,/ mas não fuma maconha no elevador. Santa Claus Junkie Yankee cáqui,/ morto de overdose probibitiva na China-Tsé,/ flashback Lucy in the Sky with Diamonds/ na voz de Elton "lento" John/ Santa...
Um dia ele me ligou convidando para ir ao cinema: eu estranhei. A gente era amigo. Batíamos longos papos na concentração, dormíamos no mesmo quarto, mas fora de lá a gente quase não se encontrava. A parada dele era outra. Outra turma, outras baladas. Pagode, mulheres. Sempre fui mais sossegado.- Passo na tua casa às sete e meia pra te pegar.Quando entrei no carro e vi ele na maior estica, uma beca no capricho, um perfume da hora, até brinquei:- Cê tem certeza que é comigo que você quer...
America I've given you all and now I'm nothing./ América eu te dei tudo e agora não sou nada./ America two dollars and twenty-seven cents January 17, 1956. América dois dólares e vinte e sete centavos 17 de janeiro de 1956./ I can't stand my own mind. América não aguento mais minha própria mente./ America when will we end the human war?/ América quando acabaremos com a guerra humana?/ Go fuck yourself with your atom bomb/ Vá se foder com sua bomba atômica./ I don't feel good don't bother me...
E contam que um dia no futuro aconteceu algo estranho. Não souberam dizer exatamente como isso se iniciou, mas a partir de um dado momento as pessoas perceberam que a dengue havia se extinguido. Com o aumento da temperatura e as mudanças na regularidade das chuvas, até então essa doença era tida como calamidade pública. Poucos eram os que suportavam manter a vida após contraí-la, conforme suas variantes passaram várias vezes de forma a forma, atingindo níveis em que não havia sistema...
Noites Loucas — Noites Loucas!
Se estivéssemos juntos
As Noites Loucas seriam
o nosso prazer!
Fúteis — os Ventos —
Para um Coração no porto —
Inútil a Bússola —
Inútil o Mapa!
Singrando o Éden —
Ah! O Mar!
Pudesse eu aportar — Esta Noite —
Em ti!
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite. A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes...
Nas tardes de verão, irei pelos vergéis,/ Picado pelo trigo, a pisar a erva miúda:/ Sonhador, sentirei um frescor sob os pés/ E o vento há de banhar-me a cabeça desnuda.// Calado seguirei, não pensarei em nada:/ Mas infinito amor dentro do peito abrigo,/ E como um boêmio irei, bem longe pela estrada,/ Feliz – qual se levasse uma mulher comigo.// Par les soirs bleus d'été, j'irai dans les sentiers,/ Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:/ Rêveur, j’en setirai la fraîcheur à mes pieds./ Je...
Arthur!/ On t’appela pas Jean!/ Nascido em 1854 praguejando em Charle-/ ville abrindo portanto caminho para/ o abominável assassinato/ de Ardennes –/ Não se admira que seu pai tenha partido!/ Então aos 8 anos você entrou pra escola/ – Pequeno Grande Latinista, quem diria!/ Em outubro de 1869/ Rimbaud está escrevendo poesia/ em greco-francês –/ Sem passagem// foge de trem pra Paris,/ o miraculoso guarda-freios mexicano/ o joga pra fora do trem/ veloz, pro Céu, onde/ ele não mais viaja porque o...
Sigamos então, tu e eu,/ Enquanto o poente no céu se estende/ Como um paciente anestesiado sobre a mesa;/ Sigamos por certas ruas quase ermas,/ Através dos sussurrantes refúgios/ De noites indormidas em hotéis baratos,/ Ao lado de botequins onde a serragem/ Às conchas das ostras se entrelaça:/ Ruas que se alongam como um tedioso argumento/ Cujo insidioso intento/ É atrair-te a uma angustiante questão . . ./ Oh, não perguntes: "Qual?"/ Sigamos a cumprir nossa visita./ No saguão as mulheres vêm...
Ela era um Espírito da alegria/ Quando a vi no primeiro dia;/ Bela Aparição brilhante/ Enviada ao encanto do instante;/ Seus olhos, como o Crepúsculo sereno;/ Como o Crepúsculo, seu cabelo moreno;/ E tudo mais que a envolvia/ À Aurora e à Primavera pertencia;/ Forma dançante, imagem a alegrar?/ A surpreender, assolar e assombrar./ Olhei-a de perto, lá estava ela,/ Um Espírito, mas também uma Donzela!/ Seu movimento leve, solto e frugal,/ E passos da liberdade virginal;/ No semblante...
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além/ de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:/ no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,/ ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto/ teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra/ embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar/ me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre/ (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa/ ou se quiseres me ver fechado, eu e/ minha vida...
Nosso amor começou certo dia no banco da praça/ Eu a vi segurando um caderno, sentada com graça/ Meu olhar encontrou seu olhar mirando um passarinho/ Machucado, ferido, sangrando, fora do seu ninho/ Ela levantou e se aproximou da pequenina ave/ Que tentava em vão atingir o alto de sua árvore/ Foi então que a vi derrubar um modesto lencinho/ Que depressa apanhei e tentei lhe entregar com carinho/ Mas eu pensei que o amor só fosse alegria/ Nunca imaginava que amando/ Fosse infeliz algum dia...
Virás como pouso tênue, leve afago/ de melodia sobre o olhar. Virás como/ manhã de infinda primavera, humilde/ alegria ante o silêncio da rosa. Virás/ como vento de orvalho, folha seca/ dedilhando teclas de poeira, chegada/ de impossível carta, som de flauta./ Mas antes da vinda da tua hora ausente,/ hei de repousar a mão sobre a memória/ e vivo como na esperança mais nova,/ vivo como na pulsação do primeiro olhar,/ hei de amanhecer o menino que fui,/ aquele sempre perdido entre passos...
Imagino a floresta desta meia-noite;/ Alguma coisa a mais está viva/ Além da solidão do relógio/ E da página branca por onde passam meus dedos./ Pela janela não vejo nenhuma estrela;/ Algo mais próximo,/ Embora mais profundamente mergulhado na penumbra,/ Penetra a solidão:/ Frio, delicadamente como a neve escura,/ Um nariz de raposa toca em folhas, gravetos,/ Dois olhos criam movimentos que agora/ E agora novamente e agora e agora/ Imprimem contra a neve marcas nítidas/ entre as árvores e...
Rolam teus cachos escuros e sobejos/ por tuas cândidas formas como um rio,/ e esparjo em seu caudal, crespo e sombrio,/ as rosas ardentes dos meus beijos./ Enquanto teus anéis solto em arquejos,/ Sinto o leve roçar e o leve frio/ da mão tua, e mui longos calafrios/ me percorrem até os ossos, malfazejos./ Tuas pupilas caóticas e estranhas/ rebrilham quando escutam o suspiro/ que me sai lacerando as entranhas,/ e enquanto eu agonizo, tu, sedenta,/ és qual um negro e pertinaz vampiro...
Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à/ Poesia/ Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico,/ nosso espaço vital & dos animais está reduzido a/ proporções ínfimas/ quero dizer que o torniquete da civilização está/ provocando dor no corpo & baba histérica/ o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento/ & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos/ em relação às últimas descobertas científicas no/ campo da física, biologia, astronomia, linguagem,/ pesquisa espacial...
Quero estar junto./ Não além dos mundos obscuros/ que são meus./ Quero estar, indiscutivelmente, distante./ Enquanto a linha entre dor e retorno/ estiver desenhada nos meus braços./ Se você entendesse.../ Se você entendesse essa coisa.../ saberia minha vida abraçada na sua./ Há necessidade de espaço/ para minha claustrofobia amorosa...
ingredientes/ dois conflitos de gerações/ quatro esperanças perdidas/ três litros de sangue fervido/ cinco sonhos eróticos/ duas canções dos beatles/ modo de preparar/ dissolva os sonhos eróticos/ nos dois litros de sangue fervido/ e deixe gelar seu coração/ leve a mistura ao fogo/ adicionando dois conflitos de gerações/ às esperanças perdidas/ corte tudo em pedacinhos/ e repita com as canções dos beatles/ o mesmo processo usado com/ os sonhos eróticos, mas desta vez/ deixe ferver...