Essa resenha, apesar de interessante, é inútil. Apesar de informar você, leitor, que a leitura de Paulicéia Desvairada é válida, essa [esta] simples e curta resenha tem o sincero objetivo de apenas impressionar o professor para uma boa nota, ou não, como diria Caetano.Começo falando do autor, Mário de Andrade, não onde nasceu e morreu – Sãopaulocapital –, de sua educação formal e não também de tudo o que fez na vida em paralelo a escrever suas grandes obras – crítico de arte, professor de...
Na literatura, o texto não necessita estar de acordo com o modo de escrita do período de tempo em que o escritor está inserido. Caso fosse assim, não teríamos mudanças. Além disso, também há textos que não preconizam transformações, mas não deixam de apontar um desvio da escritura em relação ao que se escreve no período, fato que se torna mais visível e mais premente à medida que se aproxima a modernidade. A perspectiva do progressismo e o começo da industrialização no ocidente geralmente são...
Desdemona está parada no centro do palco, a poucos metros de um crânio humano. Entra Romeu. Romeu: Com licença; você tem lume? Desdemona: Eu não fumo. Romeu: Que pena! Entra Otelo. Otelo: O que você estava falando com ele? Desdemona: Ele me pediu lume. Otelo: Sei. Ricardo III entra com um fósforo aceso. Ele se aproxima de Romeu. Ricardo III: Eis o inverno de seu descontentamento. Romeu: Ah! Obrigado! Romeu acende o cigarro. Ricardo III: O prazer foi todo meu...
O presente artigo propõe uma investigação das possibilidades da arte, mais especificamente da literatura, como porta-voz da condição humana em sua profundidade e contradições. Para tanto, construímos o texto em três partes. A primeira, trata da dissolução da noção de verdade, enfatizando, por um lado, o contexto cultural propício para isso (passagem do século XIX para o XX) e, por outro, as críticas de Friedrich Nietzsche à tradição conceitual da Filosofia. A segunda parte aborda os atributos...
Eu tenho uma alma rebelde, tanto quanto qualquer um da minha idade. Sou um rebelde sem causa, tanto quanto qualquer um da minha idade. Revolto-me fácil, tanto quanto qualquer um da minha idade, e acabo no final não obtendo resultados, tanto quanto qualquer um da minha idade. Como Hamlet, acabo não entendendo muito bem o porquê da minha rebeldia, como acredito que era como ele se via, antes do assassinato do pai. Penso nele como um rebelde sem causa, como a música do Ultraje a rigor...
Natural de Teresina, Piauí, Torquato integra a estirpe de poetas que captam e absorvem a complexidade do universo multifacetado e fragmentado que caracteriza a cultura contemporânea. Sua poética personalíssima revela a tensão trágica entre o eu lírico e a cultura de seu tempo, os anos 60/70. Como poucos, o poeta registrou e sintetizou, na vida e na arte, os sabores e dissabores, a verve e as angústias de uma geração, deixando sua marca inventiva na poesia, na música, no cinema e no jornalismo...
Um cartaz mostra Tchekhov de tênis, vestindo roupa de ginástica e segurando um cronômetro na mão direita. Ao fundo, vê-se que ele está em um campo de treinamento, enquanto refletores iluminam um dos maiores escritores de todos os tempos. Ele olha para nós e parece querer dizer o que o cartaz afirma: “3 sets daily of 7 pages and you will notice the result in a week” (algo como: “3 sessões diárias de 7 páginas e você irá notar o resultado em uma semana”). Puchkin também veste um abrigo de...
Desde o princípio, Frost adotou uma linguagem voltada aos símbolos do ambiente rural — o próprio escritor foi também fazendeiro durante aproximadamente dez anos de sua vida, em New England, EUA. Como pode ser visto no poema “Wind and Window Flower”, imagens sobre a fugacidade de momentos únicos da vida, ou sobre a solidão e a saudade que esses momentos deixam no homem, estão presentes na história breve, porém intensa, de uma flor que repousa à janela e se encontra com uma brisa de inverno...
Certa vez, Alfred Hitchcock disse que grandes livros dão péssimos filmes; que o melhor mesmo é filmar os maus livros. Levando adiante a ironia do diretor, é lícito deduzir que “grandes livros” não geram bons filmes porque os bons livros são, sobretudo, carregados pela linguagem. A maneira que o autor conta a história é mais importante que a história em si. Nesse sentido, seria muito mais fácil produzir um filme baseado em um livro como Harry Potter, por exemplo, que “conta uma história”, do...
Michel de Montaigne viveu no século 16. Ao escrever seus famosos ensaios, não tinha a pretensão de angariar um grande público leitor. Pois como se sabe, a literatura da época era divida entre os escritos religiosos, que na verdade tentavam preservar a Igreja Católica dos reformistas, os primeiros lampejos do que mais tarde se viria a chamar de ciência, e o que sempre se costumou nomear literatura e filosofia, na verdade uma herança da antiguidade clássica. O escritor francês, com seus textos...
Talvez seja melhor a leitora ou o leitor conhecer alguns contos de Anton Tchekhov (1860-1904) antes de se aventurar por A gaivota, peça em quatro atos, cuja estreia em São Peterburgo, em 17 de outubro de 1896, foi um fiasco, mas não um fiasco capaz de dobrar seu autor, deixando-o desistir da dramaturgia, enquanto o pão de cada dia era ganho com a medicina. “A platéia vaiou, gritou, zombou dos atores em cena, alguns espectadores levantaram-se para conversar aos brados”, diz o tradutor Rubens...
Poeta, pintor e gravurista inglês, William Blake (1757-1827) foi, sobretudo, um poeta visionário que transpôs em arte a capacidade imaginativa do homem em se autoquestionar diante daquilo que é imposto tanto em relação ao que era considerado certo, aceitável pelos padrões sociais da época, quanto ao errado, abominável, de comportamento inaceitável pelos retentores do poder, a Igreja e o Estado. Sua poesia foi extemporânea – apesar de ser colocada no âmago da poesia romântica –, feita com uma...
Enquadro-me nas estatísticas que ressaltam a independência das mulheres. O café já está pronto quando ela acorda e confessa que se ficasse em casa dormiria um pouco mais. Costuma elogiar minha disciplina. Trocamos palavras sobre o noticiário do dia anterior e presto atenção em alguma recomendação sobre nosso filho. Abro o portão e espero o carro dobrar a esquina. Ela vai e eu fico. Aproveito que nosso filho ainda dorme para entrar na internet e conferir se saiu algum concurso que compense...
Sérgio Augusto escreveu sobre Charles Dickens no “Sabático” de 11 de fevereiro de 2012, chamando-o de “Colosso do Tâmisa”, título de seu artigo. As referências de Sérgio Augoogle são muitas (& ninguém, NINGUÉM, deve saber mais coisas neste mundo do que o jornalista do Estadão), e se eu tivesse coragem mandaria um e-mail ao Sérgio, com uma pergunta: se Dickens, o “Colosso” de Sérgio, alude ao Colosso de Rodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo, seria Charles Dickens uma das sete...
Acorde cedo. Caminhe pelas ruas de Paris e procure uma mesa para escrever no Les Deux Magots ou no Café de Flore. Almoce no Brasserie Lipp, mas antes dê um pulinho no Closerie des Lilas. Passe a tarde no jardim de Luxembourg e leve o livro The sun also rises para ler; depois, visite Stein, Fitzgerald e Papa Hemingway. Procure a placa que indica o lugar onde a livraria Shakespeare and Company se encontrava, na altura em que Sylvia Beach aceitou publicar a primeira edição do Ulysses, de James...
Eu queria ter uma versão miniatura do carismático Ed Folsom. Em carne & osso. O professor da University of Iowa teria o tamanho de um bonequinho dos Pneus Michelin, igualzinho àqueles que ficam sobre as cabines dos caminhões. Então, eu o colocaria em cima do painel do carro e, quando fosse sair por aí, levaria Folsom comigo. Juntos, ficaríamos conversando sobre poesia moderna, Walt Whitman e poetas rebeldes. Foi com o professor Ed Folsom que Tertúlia fez sua primeira entrevista em língua...
A vida é uma peleja. Há dois anos, quando Tertúlia entrou no ar, fui à Feira do Livro de Ribeirão Preto praticamente todo dia. De Rafael Cortez a Milton Hatoum, Tertúlia pôde contar a seus leitores o que aconteceu durante o evento, mesmo que algumas semanas depois da Feira ter terminado. Nossa preguiça pessoal sempre vive a nos circular o pescoço, como um cachecol de lã, não é mesmo?Ano passado, lá estava Tertúlia na Feira do Livro de Ribeirão novamente. Mais uma vez, mais autores passaram...
A primeira vez que vi Moacyr Scliar foi no 8º Congresso Internacional da ABRALIC (Associação Brasileira de Literatura Comparada), em Belo Horizonte, em 2002. O escritor falou sobre o pai, sobre o passado, sobre a literatura que, com a medicina, tomou conta de sua vida. A segunda vez foi em Ribeirão Preto. Ele viera para a feira de livros da cidade. Após o bate-papo com o público, foi autografar seus livros e conversar com o público. Era de uma simpatia acolhedora. Quando chegou minha vez...
Quem gosta de estudar, tem tudo para ser professor. Uma frase de Borges explica: “Gosto de ensinar, sobretudo porque, enquanto ensino, estou aprendendo”. É verdade. Sou professor de literatura há 12 anos. No início, sem experiência, tudo foi difícil. Nunca me esqueço de uma aula para alunos de 5ª série. Eu, o professor, vinte e poucos anos, sozinho diante dos alunos, tentando capturar a atenção deles, enquanto a sala de aula parecia um mini-parque de diversões ou um cantinho de festas para...
O que fazer quarta-feira em Batatais, às 10 horas da manhã? Assistir pela TV aos minutos finais do jogo entre Honduras e Chile? Admirar as figuras de topiaria da praça central? Ver os quadros de Portinari na Igreja Matriz? Bem, ao visitar Batatais, você pode – e deve – fazer tudo isso, mas não às 10 horas da manhã de quarta-feira, 16 de junho, quando o escritor Daniel Galera vem à cidade para falar sobre leitura e literatura na pequena biblioteca municipal. Se você leu Dentes guardados...
A 10ª edição da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto começa hoje. Até o dia 20 de junho, nas praças XV de Novembro e Carlos Gomes, livros e futebol estarão dividindo o coração daqueles que terão de optar entre ficar em casa, e assistir aos jogos da Copa, ou ir à Feira. Pergunta: por que as semanas de Feira coincidem com a Copa do Mundo? Literatura e futebol convivem numa boa, certamente, mas um evento competir com o outro talvez não fosse necessário, não é, pessoal? Tudo bem...
Da mesma forma que a música de Beethoven é capaz de oferecer ao ouvinte um pouco mais da personalidade arredia do gênio, com a literatura, também passamos a frequentar a cabeça dos escritores, descobrindo o que se passa ali dentro, quer eles queiram ou não. Se qualquer que seja a vida ela já vale a pena, imagine andar pelo mundo, conhecendo-o e conhecendo-se, tendo ao seu lado gente como Jack Kerouac, Eça de Queirós, Erico Verissimo, William Shakespeare, Cervantes, Dante, Chaucer, Dostoiévski...
Saio de casa duas horas mais cedo. 45 quilômetros separam Batatais de Ribeirão Preto. Quero assistir à aula inaugural de Cristovão Tezza, o premiado autor de O filho eterno (Record, 2007), na SBPRP – Sociedade Brasileira dos Psicanalistas de Ribeirão Preto. Ainda tenho de encontrar minha esposa e seu irmão no Ribeirão Shopping porque quero comprar uma bicicleta. Anos e anos de boa vida estariam chegando ao fim, agora, com horas e horas pedalando rua acima, rua abaixo. É sexta-feira à noite...
O agente literário Phyllis Wesberg anunciou a morte do escritor J. D. Salinger e pegou todo mundo de surpresa. Não que estivesse esquecido aos 91 anos de idade, mas ninguém tinha notícias do escritor já há algum tempo. Avesso à vida pública, o arredio Jerome David Salinger morreu de causas naturais, na pequena e tranquila Cornish, EUA, nesta quarta-feira, 27 de janeiro de 2010. Mais do que Dalton Trevisan ou Rubem Fonseca, Salinger defendia com unhas e dentes seu exílio voluntário, dentro de...
Pela primeira vez, aos 37, comprei duas bonequinhas de porcelana. Para mim. Também ando pensando em comprar uma bonequinha de Coraline Jones. De 18 centímetros. Mas essa é outra história. A questão é: como explicar a um rapazinho de nove anos que seu pai não virou “mariquinha”? Não me leve a mal. Foi apenas a expressão que ele usou para mostrar o que entende quando vê o pai comprando uma bonequinha numa banca de revistas. Explico. Sou professor de literatura. Dias atrás vi na TV...
O que quer uma poeta, utilizando um pseudônimo (Victoria Lucas), ao escrever não um livro de poemas, mas um romance? É importante mencionar que a poeta em questão é Sylvia Plath e, como sabemos, seu último ato foi enfiar a cabeça dentro de um forno, depois de ligar o gás, enquanto seus filhos pequenos dormiam no quarto ao lado. O que quer? Após esse irremediável xeque-mate a favor da Morte, seus poemas passaram a ganhar mais e mais leitores: uns mais preocupados em entender a poesia...