Em meio ao arrastão de filmes que temos à disposição, de acesso tão fácil quanto retomar o caminho para chegar em casa, Manchester à beira mar é um exemplo cada vez mais raro daquele tipo de cinema que tão bem faz à alma da gente, quando, semanas depois, no chuveiro ou no passeio, o filme ainda fica a cutucar o cocoruto. A primeira surpresa é a de que a história não se passa na Manchester que se espera, mas sim em uma cidadezinha de mesmo nome, nos Estados Unidos, perto de Boston...
Ontem assisti a "Medos privados em lugares públicos". Nunca havia visto nenhum filme de Alain Resnais (1922-2014). Acho. Deixa eu ver no Google. É, não mesmo. Nem mesmo "Hiroshima, meu amor" (que vergonha, Renato!) e muito menos "O ano passado em Marienbad" (sem comentários). Será que vi "Fumar/Não fumar?". Deixa eu ver de novo no Google. Não, também não vi, mas lendo sobre esse filme na internet, descubro que vou ter de correr atrás. Por quê? Veja o que diz um blog português que achei na...
Não há grandes sobressaltos neste "Filme", de Lillian Ross, jornalista que, aos 22, aceitou o convite de John Huston para acompanhar as filmagens de "Glória de um covarde" (The red badge of courage), adaptação do clássico romance de Stephen Crane sobre a Guerra Civil americana. A jornalista, curiosa com a indústria cinematográfica, queria saber mais sobre os percalços que um filme passa, antes de chegar, fresquinho, à tela grande do cinema. Durante mais de um ano e meio, da pré-produção...
A primeira cena de La La Land tem cerca de dez minutos e é uma espécie de aviso: “você está aqui para ver um musical!”. Corta para um sujeito comendo bife de fígado, com os olhos semiabertos, cara de feliz e fazendo “hummmm”… Essa cena só é possível com uma condição básica: gostar de bife de fígado. Corta para um viaduto com dezenas de carros parados em um engarrafamento e todas os motoristas e caroneiros cantando e dançando, subindo nos capôs, sorrindo, enfim, uma verdadeira festa...
Thomas (David Hemmings) é um fotógrafo de moda e na moda. É arrogante, tem tudo que quer e, em Blow-up – depois daquele beijo (1966), de Michelangelo Antonioni, vai aprender uma lição. Profunda. É uma alegria para os olhos o que se vê neste filme. O espectador, após poucos minutos de exibição, tem certeza de que está diante de um dos grandes filmes do cinema. Um dos melhores, mesmo que tenha ficado fora da seleção dos 100 melhores filmes, da revista Bravo (R.I.P.), e dos 501 filmes que...
"Coraline e o mundo secreto" é um filme em stop-motion que deve ser visto na sala de aula ou na sala da nossa casa. Tanto faz. Embora caia muito bem quando visto do tapete da sala, alunos e professores têm muito para discutir após a sessão da tarde regada a pipoca, barras de chocolate Wonka, Nutella e, bem ali, a Fanta uva da infância querida. Ou não; é como você leu: o filme não tem de ser visto pelos adolescentes apenas do lado de dentro dos muros da escola. É que, na sala ou no quarto...
Não é difícil parar de assistir a O anjo exterminador um pouco antes da metade do filme. Mas você insiste. Como não enfrentar a esfinge? Ainda mais com o argumento pra lá de estranho do enredo: após uma ópera, um jantar é oferecido por um casal, que convida vários amigos à sua casa. Mesa posta, jantar servido, cafezinho, conversa jogada fora. Já é madrugada, mas ninguém quer, ou consegue, ir embora. Estranho é ver aquela dúzia de gente começando a tirar os sapatos, gravatas, vestidos e...
Não queria gastar seu tempo, querid@, fazendo você espremer seus olhinhos para ler este texto sobre "O assalto ao trem pagador", filme dirigido por Roberto Farias e que, livremente, reconstrói não só um roubo histórico cometido por um grupo de amigos no interior do Rio de Janeiro, mas também o mais difícil: a tentativa inútil dos assaltantes de guardar o dinheiro, uma vez que devem gastar apenas 10% do que coube a cada um. Não queria gastar seu tempo, querid@, porque o que queria mesmo era...
Entre 2008 e 2010 escrevi artigos sobre cinema, surrealismo inclusive, para a revista "Reserva Cultural", de Miguel de Almeida. Exemplares esgotados, fora de circulação, resolvi atualizá-los e apresentá-los a um público mais amplo aqui, no "Tertúlia". Acrescentei algo – por exemplo, o episódio da visita a Mojica Marins. É um tema estimulante. 1 Saber olhar. Lembram-se daquele padre voador que, em 2008, em seu ridículo aparato feito de balões de hélio, foi levado pelo vento na direção oposta...
Quando falamos a palavra "vampiro", geralmente, o que vem à cabeça é a imagem de um homem vestindo roupas pretas e com gel nos cabelos. Sempre envolvida em uma aura de mistério e sensualidade, a figura do vampiro é capaz de mexer com nossa imaginação. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o vampiro era repulsivo, parecido com um zumbi que se alimentava de cadáveres humanos. A descrição do vampiro que conhecemos e incorporada no imaginário coletivo, principalmente, em sua forma...
A visita do papa Francisco ao Brasil merecia ter sido registrada por dois cineastas: Federico Fellini e Luis Buñuel. Ambos aproveitariam ao máximo a cena com bispos e outros sacerdotes dançando, ou os repórteres da TV Globo fazendo cara de devotos em suas coberturas jornalísticas. Na ausência deles, na impossibilidade de contar com seu talento, homenageio-os. Hoje, começo por Buñuel. Já foi observado por comentaristas e estudiosos: L’âge d’or (A idade do ouro), de 1930, seu segundo filme e...
A experiência por que passam os meninos do filme Conta comigo é um ritual de passagem: saem da infância para a adolescência com muita maturidade. Em meados dos anos 1950, quatro garotos na pré-adolescência – naquele momento em que as garotas ainda não se tornaram motivo de preocupação – partem numa viagem que, aventura à parte, será um ponto luminoso na vida de cada um. O motivo para pôr o pé na estrada é a morte de um garoto que perdeu a vida após ser atropelado por um trem. Determinados a...
Imagine a cena: uma mansão sombria à beira de um lago, com um grupo de pessoas entediadas. Cai uma tempestade. Para passar o tempo, começam a contar histórias de horror, cada uma mais assustadora do que a outra. Imagine que esse grupo é formado por uma garota de 18 anos, Mary Godwin, que já havia passado por várias tragédias pessoais, dentre elas, sucessivos e traumáticos abortos; seu amante, Percy Shelley, poeta talentoso, mas imaturo e viciado em ópio; a irmã de Mary, Claire Clairmont...
“Ninguém me chama de covarde”, responde, pausadamente, Martin McFly, sempre que alguém o desafia; há quatro anos, após assistir ao final da trilogia "De volta para o futuro", eu e meu filho (à época com 8 anos) já falávamos juntos essa frase. Esse menino, após a última cena do filme, quando o trem elétrico sai voando pela tela, perguntou resignadamente, mas já sabendo a resposta: “e o próximo?!” Diante da triste resposta negativa — me sentia como ele —, Théo começou a chorar. Imagino quantos...
O grande problema para quem lê "O Iluminado", de Stephen King, depois de ter visto o filme de Stanley Kubrick que se tornou um clássico do cinema de horror, é não procurar estabelecer uma relação entre o romance e o filme. É uma tarefa difícil, ainda mais porque as assustadoras imagens das irmãs gêmeas no corredor do hotel e, principalmente, de Jack Torrence, encarnado por Jack Nicholson em uma atuação tão marcante que ele não conseguiu mais se desprender totalmente dela, voltando a...
Não haveria Batman sem Freud. A culpa que acompanha Bruce Wayne (Christian Bale) pela morte dos pais, o medo de morcegos, complexo de Édipo etc., tudo está em Batman begins (EUA, Inglaterra, 2005), primeiro dos três filmes que tem no herói da DC Comics a sombria figura do ser humano atormentado por seu passado. Depois de O cavaleiro das trevas (The dark knights, EUA, 2008), a trilogia toma forma com o lançamento de O cavaleiro das trevas ressurge (The dark knight rises, EUA, 2012). Então...
Preferiria não ter visto A estrada, mas ainda bem que vi. É um dos filmes mais tristes que há por aí. As lágrimas vão marejar seus olhos. Ainda mais se você for pai de um garoto. Em A estrada, acompanhamos Viggo Mortensen e um menino, seu filho, andando para lá e para cá, sempre na estrada, em busca do que comer e beber, enquanto escapam de outras pessoas que, agora, se tornaram canibais, sem qualquer resquício de ética. Acabou. O mundo, como o conhecemos, acabou. Não há meio-termo. O mundo...
Paris-Manhattan poderia ser um filme de Woody Allen; no caso, mais uma dessas comédias românticas que Allan Stewart Königsberg vem fazendo nos últimos anos, mas a direção é da estreante Sophie Lellouche. Não que Para Roma com amor (2012), Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (2010), Tudo pode dar certo (2009), Scoop: o grande furo (2006) sejam ruins. Longe disso. Até porque um novo filme de Woody Allen é sempre um bom vinho com queijo embaixo da sombra de alguma árvore. Para o sommelier..
Quando a história começa, encontramos o bando de Jesse James cindido. Ele não confia em nenhum de seus capangas e tem certeza de que será traído por um deles. Não deve ter sido fácil a vida de Jesse James. Foragido da lei, seu nome ganhou os jornais e a fama porque tinha um pouco de Robin Hood: dava aos pobres o que roubava dos ricos. Mas fica a pergunta: teria sido Jesse “Robin Hood” James realmente assim?Bem, a menos que o Google um dia diga o contrário, essa é a imagem que o filme...
“Você me despreza?”, pergunta Ugarte (Peter Lorre) a Rick (Humphrey Bogart). “Se ao menos pensasse em você, provavelmente, desprezaria”. Em outro momento, um oficial alemão pergunta a Bogart: “Qual a sua nacionalidade?”. “Eu sou um bêbado”. O mesmo oficial ainda comenta com Rick: “quer dizer que você não simpatiza com a raposa?”. Eles estão em Casablanca, África, no Marrocos francês. Rick é dono do lugar mais badalado da cidade, o Rick's Café Américain. Taciturno, temido, cioso de seu negócio...
Quando dezembro desponta no calendário, enquanto árvores de Natal começam a fazer parte da decoração da casa, e o espírito vai se preparando para o “bom velhinho”, é chegado o momento de espreguiçar-se no sofá da sala e ver filmes que, de preferência, tenham neve e temas natalinos. Por aqui, o mais perto que temos da neve são as bolas de sorvete que derretem sob esse sol escaldante. Mesmo assim, como tem chovido bastante, o céu cinza é suficiente para sossegar o espírito; eis aí, então, uma...
Recentemente, precisamente há uma semana, fui surpreendido com a notícia de que a Folha de S. Paulo lançaria uma coleção com os filmes de Charles Chaplin em DVD acompanhados de libretos com comentários a respeito de sua obra. Logo em seguida, formulei algumas ideias – como pesquisador – a respeito do assunto, intencionando responder a uma questão que me foi feita: qual a importância da iniciativa da Folha em lançar obras de Chaplin? Achei a pergunta bastante apropriada, se considerarmos que...
O cinema brasileiro é lento. Mesmo no auge - acredito que estamos atravessando o melhor momento da história - nosso cinema demora. Essa é a expressão fiel: nosso cinema demora. É bom repetir porque este artifício, a repetição, é usado frequentemente, contribuindo para que nossos filmes demorem a acontecer, junto com outras "técnicas" não menos agressivas, como a inclusão de exaustivas cenas desnecessárias, absolutamente fora do contexto e que nada contribuem para o desenvolvimento da...
A literatura norte-americana sempre traz como uma de suas marcas a liberdade que a vastidão territorial dos EUA oferece aos desbravadores. Foi assim no início da colonização, quando o oeste era uma região a ser conquistada, e ainda hoje, com muitos aventureiros a percorrer regiões cuja beleza, além de desoladora, ainda faz os olhos se perderem na vastidão de pradarias, florestas, deserto etc. No filme Na natureza selvagem (Into the wild, EUA, 2007), dirigido por Sean Penn, acompanhamos a...
A mostra Chaplin e sua imagem, organizada pelo curador Sam Stourdzé e exibida no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, de 20 de outubro a 27 de novembro deste ano, é inspiradora e revela Charles Chaplin em sua intimidade, com brincadeiras teatrais em família e gracejos que também são pequenos trechos de seu trabalho, pequenos esquetes aproveitados para alegrar o seu cotidiano entre amigos. As imagens, ao buscarem abranger o artista e o seu personagem Carlitos, despertaram, como pude verificar...
Alguns filmes sempre terão lugar cativo na memória do espectador. O que dizer de Terra estrangeira, de Walter Salles? No carro veloz estrada afora, chorando, Fernanda Torres é acalentada por “Vapor barato”, de Gal Costa. Tão longe, tão perto, e o cinema – para mostrar qualquer que seja o exílio – resgata uma bela canção. E os meninos caipiras de 2 filhos de Francisco cantando na rodoviária “No dia em que eu saí de casa”? Mesmo sem gostar de música sertaneja, impossível ficar indiferente a uma...
É uma velha história que é contada pelo roteiro de Karim Aïnouz e pela direção de Walter Salles. Você já sabe: se quer ser universal, fale dos problemas de sua aldeia. A aldeia em Abril despedaçado localiza-se no nordeste brasileiro, mas encontra-se também na Albânia, país de origem de Ismail Kadaré, cujo romance originou o filme. Nem sempre a união entre literatura e cinema culmina em grande coisa, mas aqui o resultado é promissor.A história se passa em Riacho das almas, no sertão...
No tempo da ditadura militar em nosso país, censura era algo corriqueiro e eficaz, pois atendia com requintes a nefasta necessidade da milicada em não informar, em esconder. Colocavam um burocrata qualquer com um carimbo vermelho na mão, proibindo tudo aquilo que pudesse atingir o governo e principalmente os generais. Ela era feita com uma competência surpreendente, chegando a mandar para o lixo edições inteiras de jornais, músicas, peças de teatro, enfim, uma infinidade de manifestações não...
Acontece há algumas décadas: os filmes infantis que vemos com nossos filhos não são feitos apenas para eles. São para adultos também. Já não é de hoje que essa fórmula se perpetua — ou você acha que é possível dizer que O mágico de Oz ou Branca de Neve e os sete anões são filmes só para crianças? Não mesmo, não é? Desde Mickey e Pato Donald já não é mais assim (anotações para mim mesmo: ler Para ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Matterlat). O que nos leva a Bolt — supercão, filme...
A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Escrever um texto sobre um filme antes que ele seja lançado, é uma resenha presunçosa ou não passa de especulação? Amor? é ficção ou documentário? Poderia começar este artigo de diversas formas, mas, como bom glutão, começo com uma receita de bolo: 2 copos de farinha de trigo; 2 copos de açúcar; 1 colher (sopa) de fermento em pó; 4 ovos; ½ copo de óleo. Coloque tudo no liquidificador e leve ao forno em assadeira untada. Pronto. Apenas isso...
Quando termina um filme e começam a subir letrinhas que ninguém lê, eu procuro olhar para as pessoas. Procuro interpretar as reações de cada um. Vejo de tudo: expressões de choro, pessoas aliviadas, descansadas, felizes, enfim, naquele instante é revelado o efeito do que foi recém exibido. É um ótimo termômetro. Costumo, também, logo depois de terminada a sessão, pensar no que - ou se - escreveria algo a respeito. E aí acontece um fato interessante: alguns filmes não me inspiram a falar sobre...
É difícil criticar um filme. Não muito raramente, as pessoas confundem os autores com sua obra e, ao apontar um defeito em uma das partes, acaba por atingir a outra. Para não correr o risco de isso acontecer e tornar ainda mais complicado o texto, minha singela opinião sobre o jornalista/comentarista Jabor: não gosto dele. Sua arrogância é maior que suas ideias. Bem maior. Uma pessoa que não permite o erro está fadado à soberba, o que é suficiente para entrar na lista dos "não gosto"...
Eu me lembro da primeira vez que vi Viagem ao mundo dos sonhos (Explorers, EUA). O filme foi lançado em 1985. Eu tinha 13 anos. Com 13 anos, eu queria encontrar a garota dos meus sonhos, jogar bola, ler, ouvir música e começava muito a ir ao cinema. Muito. Vi Viagem ao mundo dos sonhos no Cine Coral, um cinema aconchegante e atraente de Araraquara, mas com cadeiras de madeira e afastado do centro da cidade. Lá se vão duas décadas de minha vida, quando vejo passar, no espelho retrovisor de...
Minha mulher torceu o nariz quando viu Matadores de vampiras lésbicas (Lesbian vampire killers, Inglaterra, 2009) entre os DVD’s que trouxe da locadora. “Como assim?!”, disse a ela. “Qual o problema?”. Bem, confesso que sabia aonde ela queria chegar e, de qualquer forma, desconfiava de que esse filme não tinha muito a ver comigo mesmo. Quer dizer, se tivesse 18 em vez de 38, teria; e muito. Adolescente, gostei bastante de vampiros e creio que, até hoje, ainda os aprecio. Mas com moderação...
Harvey Pekar foi encontrado morto em sua cama, na madrugada de 12 de julho, em Cleveland. Tinha 70 anos. Em seu último domingo, foi dormir às quatro e meia da tarde, sentindo-se bem, segundo a esposa. Câncer de próstata, pressão alta e depressão vinham-no incomodando nos últimos anos. “Se eu morrer, o personagem continua?”, pergunta Paul Giamatti a Hope Davis (Joyce Brabner), no filme Anti-herói americano (American Splendor, EUA, 2003), que retrata a vida de Pekar. “Sou um cara que escreve...
Durante a Guerra Civil espanhola, nos anos 1930, Robert Jordan (Gary Cooper) é um inglês idealista que, para defender os princípios de liberdade e democracia, se engaja na luta armada. Ele é uma espécie de agente secreto e tem uma missão de altíssimo risco pela frente: explodir uma ponte no momento certo, para impedir que tropas inimigas possam seguir caminho. Ao seu lado, tem um grupo de rebeldes que irá ajudá-lo a realizar sua tarefa. Os rebeldes moram nas montanhas; com eles, vive Maria...
Alguns mestres da literatura afirmam que, se um livro está bem feito, a ordem dos acontecimentos pouco importa. Algo como o meio da história iniciar a leitura e o final ficar na metade da obra. Essa "desordem" pode trazer benefícios muito interessantes. Para que isso seja possível, absolutamente tudo - personagem, estrutura, conflito - tem de estar bem feito. Não é coisa fácil, muito menos para principiantes. Claro que, para o cinema, a história muda um pouco. Começa que um filme é feito em...
Brutalidade, esse é o tema central de A fita branca. Antes de comentar o filme, porém, vou atrever-me a dissertar sobre a sinopse, que fala de "estranhos eventos que acontecem num pequeno vilarejo ao norte da Alemanha, pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial". Estranhos eventos? Fui ao cinema na expectativa de presenciar tais eventos e medir suas estranhezas. Fiquei lá, angustiado por 144 minutos e nada. O filme terminou e absolutamente nada que não fosse comum, trivial...
Confesso: sempre fui um admirador do cinema argentino. Fui ver O segredo dos seus olhos (direção de Juan José Campanella) e saí do cinema com várias certezas. A primeira delas é que minha admiração não é à toa. Nossos queridos hermanos fazem cinema com a mesma facilidade que Maradona fazia estrepolias com a bola nos campos de futebol mundo afora. Eles estão, sem dúvida alguma, um pouco adiante do que nós - brasileiros da área cinematográfica, mergulhados em soberba...
Não sou muito simpático a transformar tudo em números. Acho isso uma atitude enfadonha, desnecessária e, pior, simplista demais. Algumas vezes, porém, é vantajoso. Pois, então, vamos lá: 2012 (já no título começam os algarismos) custou cerca de 260 milhões de dólares para 158 minutos de exibição. É, sem dúvida, o maior - em vários sentidos - de todos os filmes-catástrofe já lançados nesses últimos tempos. A obra traz nomes para lá de interessantes, como Roland Emmerich na direção - bastante...
"Trabalho para mim mesmo. Não devo satisfação a ninguém. Não tive escolha (ao fazer o filme). Foi a mão de deus, eu temo. E eu sou o melhor diretor de cinema do mundo. Não sei se deus é o melhor deus do mundo". Essa frase foi dita por Lars Von Trier na entrevista que deu logo após a exibição de Anticristo, seu último trabalho, no Festival de Cannes. O clima não era nada amistoso, pois na sessão especial para a imprensa, vaias foram ouvidas em vários momentos e alguns jornalistas saíram antes...
Foi ver Distrito 9 no cinema? Não? Más notícias: logo que você chegar ao céu, Ele vai fazer a mesma pergunta. Se ainda não tiver visto o filme, Ele vai pôr a mão na sua testa e, com o indicador da mão direita pra lá e pra cá, como um limpador de para-brisa, vai dizer que não há jeito: “Tu vais ter de voltar à vida errante que levavas e ver o filme em um cinema!”. Gerson, você só não pode regressar ao corpo oblongo e, depois da primeira lufada de ar a passar pelos brônquios, querer prorrogar...
Quando eu era menino, esperava ansiosamente pela visita do Papai Noel. Lembro que, de novembro em diante, meus "modos", que não eram lá o que se poderia chamar de bons, mudavam completamente. De moleque travesso a um pequeno lorde inglês em um passe de mágica. Confesso que depois da visita do bom velhinho, ficava calculando se tinha valido a pena todas aquelas semanas de comportamento exemplar e, na maioria das vezes, concluía que não.Pois acontece algo parecido nos dias de hoje...
É um filme daqueles que raramente caem em suas mãos. Faz algum tempo, Luiz Carlos Merten escreveu que Apenas uma vez (Once, Irlanda, 2006) ganhava o público pela franqueza e talento de Glen Hansard. O crítico de cinema do Estadão tinha razão. É um filme de uma simplicidade absurda e que conta também com Marketa Irglova no papel de uma imigrante tcheca que vende rosas e revistas nas ruas. Hansard interpreta um sujeito que vive a cantar e tocar violão em Dublin, em troca de moedas...
Motoqueiro fantasma é para se ver mais de uma vez. Impossível não gostar do filme. Terminada a adolescência, histórias de super-herois já não chamam mais tanto a atenção. Uma pena, porque sempre deveria existir um gibi do Motoqueiro Fantasma sobre a mesinha da sala. Quem não conhece Johnny Blade, o herói que se transforma no esqueleto flamejante montado numa motocicleta importada diretamente do inferno, após ver o filme, será mais um a escrever as palavras “motoqueiro fantasma” no Google.